ESTRATÉGIA EM ESTUDO: ORIENTAÇÕES SOBRE DRAFT (PARTE I)
Olá pessoal, tudo bem? Hoje quero dar início a um guia com orientações sobre como escolher cards para o draft da coleção nova, Ascensão e Queda. Mas antes precisamos explicar o que é um draft.
Como o Kleber já fez isso de maneira muito educativa, eu deixarei aqui o link para o vídeo que ele fez no canal The Game of Cards, explicando como funcionará o formato novo. Dá uma olhadinha no vídeo e volta aqui depois. Não se preocupe, eu espero.
Pronto? Então vamos lá!
Princípios Básicos: a composição de um booster
Em primeiro lugar, um booster de BS tem mais ou menos a seguinte composição:
- 4 cards comuns;
- 2 cards incomuns;
- 1 card raro, ou super, ou ultra.
Para cada rodada do draft, cada jogador abrirá dois booster, escolherá uma e adicionará esse card à sua reserva. Depois, ele passará as demais ao próximo jogador (em cada rodada a ordem muda), receberá os cards do jogador anterior e deverá fazer uma nova escolha. Dessa forma, ao final de cada rodada, cada jogador terá em sua reserva 14 novos cards para construir seu deck.
Então, no início de cada rodada quando você abre seus dois booster, você terá:
- 8 cards comuns;
- 4 cards incomuns;
- 1 card raro, ou super, ou ultra;
- Outro card raro, ou super, ou ultra.
O objetivo deste guia é aconselhar os jogadores a priorizar certas escolhas antes de outras para aperfeiçoar a composição do seu deck. Para podermos passar para o próximo ponto, queria fazer duas observações: a primeira é que a coleção (Ascensão e Queda) possui um forte tema tribal e que a sinergia proporcionada entre os membros de uma mesma afiliação é muito importante de ser observada para tomar uma decisão de que card priorizar em cada escolha. Em consequência dessa primeira observação, muitas das prioridades de escolhas de cards terão um viés que representa isso: é claro que a maioria dos cards de raridade super ou ultra é melhor que qualquer rara, mas um Corvus Glaive, por exemplo, pode ter prioridade na escolha sobre Medusa V2 se a sua reserva já estiver bem orientada para um deck de Ordem Negra.
A segunda observação antes de prosseguirmos é, na verdade, um esclarecimento: a escolha que um jogador faz a cada rodada será chamada de pick. Eu quero continuar este texto usando este termo porque ele é muito comum quando falamos de draft, então é conveniente padronizarmos isso, ok?
Primeira Rodada: quais as prioridades?
Ok, começando então pela primeira rodada. O que devemos priorizar?
A resposta é simples: personagens e bombas.
Para esclarecer, uma bomba é um card muito forte para o formato limitado. Como não temos ainda a coleção inteira revelada, é difícil dar muitos exemplos. Por ora, o que eu considero bomba para este draft: Medusa V2, Luke Cage V2, Fauce de Ébano, Raio Negro V2 e Odin. Por quê? Porque se você abrir algum desses cards logo na primeira rodada do draft, você pode considerar mudar seus planos dali em diante. Pense nisso: você acabou de abrir seus dois primeiros booster e ali, de cara, tem um Odin e muitos cards de Inumanos. Por mais que Maximus – O Louco seja bom para um deck de Inumanos, você vai pegar certamente pegar um Odin. Isso porque o Odin é tão forte num deck de Asgardianos que você pode montar um deck consistente por ter aberto um card muito poderoso. Além disso, por ele ser ultra, dificilmente você terá a sorte de abrir outro. Então aproveite a oportunidade e passe a caçar os Asgardianos que passarem!
Essa questão das bombas pode acontecer até o terceiro pick de cada rodada, sendo muito raro ocorrer depois disso. Imagine que você abriu dois booster na primeira rodada e veio uma Medusa V2 e um Luke Cage V2: duas bombas! Você avalia os demais cards que você abriu e vê que é favorável escolher Inumanos ao invés de Heróis de Aluguel, por isso escolhe a Medusa V2. Quando você passar os cards para o próximo jogador e ele ver que está recebendo um Luke Cage V2, ele vai ficar desconfiado: “o que esse cara pegou para passar um Luke Cage V2?”. Agora, se esse jogador que recebeu seu Luke Cage V2 tiver pegado um Raio Negro V2 e ver que tem uma Cristalys nos cards que você passou, ele provavelmente vai pegar ela, ou então ele correrá o risco de pegar um card de maior valor de jogo (Luke Cage) e talvez não tenha a chance de pegar a Cristalys na volta.
Voltando então ao começo da discussão: exceto pelas bombas, na primeira rodada do draft devemos priorizar os personagens, em particular aqueles que são pelo menos bons de maneira geral. Se você estiver acompanhando a avaliação dos cards revelados na nova coleção aqui no site da MTCG, você poderá reparar que alguns cards possuem uma nota maior do que outros. Eu particularmente pontuo os cards da seguinte forma:
Nota Opinião sobre o card
Não vai jogar em nenhum formato de deck construído, e mesmo para o draft é um card ruim.
Opções de jogo limitadas. É um card razoavelmente bom em um formato limitado, como draft, tribal ou Pauper. Praticamente não deve ver jogo fora desse contexto.
Um card mediano/bom de maneira geral, ou um card bom para um formato particular, como tribal. Esses cards possuem poder considerável no contexto certo (um bom exemplo é o Hugin em um deck de Asgardianos).
O card é bom de maneira geral, ou excelente em um contexto específico. Praticamente, no contexto certo, esse é um card que não pode faltar (Medusa V2, por exemplo, em um tribal de Inumanos). É um card que verá jogo e poderá entrar no metagame no lugar de algum outro card mais antigo.
O card é tão bom que ele vai ver jogo e vai impactar no metagame. Estratégias nascem e morrem por causa de cards com essa nota.
O card redefine o metagame de tal forma que o jogo muda em vários aspectos por causa dele. Saudações, ó Cassandra Nova!
Então, se você for optar entre personagens com diferentes notas, escolha aquele de maior nota e, em caso de empate, pense nos detalhes para julgar a diferença. Vamos fazer um exercício – imagine que, após analisar muito e pensar, você se deflagra com uma escolha como essa:
Qual desses cards você escolheria? Imagine que para esse exercício você não tem nenhuma afiliação com cards bons o bastante para poder julgar uma afiliação mais do que outra. Então, é indiferente, para esse caso, a sinergia para a afiliação.
Para tomar essa decisão, precisamos olhar um pouco mais cada card. De cara, vemos que tanto o Maximus quanto o Hugin são muito específicos para que possamos aproveitá-los fora do contexto de afiliação. Sobra então Fandral e Corvus Glaive.
Fandral leva a vantagem na configuração 4/2, mas perde para os quatro poderes de Corvus e a ação que sempre causa dois de dano penetrante – a ação de Fandral só causa dano penetrante se houver outro dos Três Guerreiros em cena. Fora isso, o Corvus pode capacitar a si mesmo com o texto dele. Fácil decisão, certo?
Mas agora imagina se a decisão ficasse entre esses outros dois aqui:
Cristalys, para um deck de Inumanos, tem uma sinergia incrível. A configuração dela é melhor que a do Corvus, em minha opinião, pois ela entra em cena com menos recursos e precisa de uma quantidade de dano aproximadamente igual à necessária para nocautear o Corvus. Além disso, a ação dela é uma antecipação com dano decente, e o texto dele basicamente anula o efeito de Vendaval Grudento sobre ela – o que é algo bom, uma vez que esse é um card bem forte nesse formato limitado. Além disso, a nota dela (3) é maior que a do Corvus Glaive (2), por isso o certo é escolher ela, certo?
Então, não necessariamente. A Nota dela é maior porque ela é melhor que o Corvus Glaive de maneira geral. Ela tem mais opções de ver jogo do que ele em uma situação em que você possui ambos os cards e deve escolher conscientemente como você construirá seu deck. Mas o Corvus Glaive tem uma vantagem sobre ela em um formato limitado.
Ele é raro, e ela é incomum.
Por esse motivo, pode ser mais interessante escolhe-lo frente a ela porque você terá mais chances de abrir uma Cristalys no futuro do que um Corvus. Supondo que você optou pela Cristalys e depois suas escolhas foram levando você a pegar mais membros da Ordem Negra do que Inumanos. Você terá uma chance muito pequena de abrir novamente um Corvus Glaive – pior do que isso, o Corvus que você passou foi pego por outro jogador. Então, aquele jogador vai tentar pegar ao máximo possível membros da Ordem Negra e isso pode atrapalhar sua estratégia de draft. Se o contrário ocorrer (você ficar com o Corvus e depois suas escolhas te levarem a ficar com mais personagens Inumanos), a chance de você abrir outra Cristalys é maior.
Tudo isso para dizer que, na verdade, a nota não deve ser o critério primário para a escolha, nem a raridade. O que você vai precisar para construir uma boa estratégia no draft é pensamento analítico, conhecimento da coleção e um pouco de sorte. Como não se pode contar com sorte, esteja preparado: olhe os cards da coleção, pense sobre o que eles fazem, quais são os pontos fortes e pontos fracos, onde eles são melhores e onde eles são piores, peça a opinião de outras pessoas, debata – enfim, conheça a coleção e aprenda a julgar as opções.
Bom, acabou a primeira rodada do draft, e o que fazer? Primeiro avaliamos as nossas escolhas, e vemos quantas bombas conseguimos. Vamos tentar definir qual vai ser a nossa tentativa de plano antes de começar a segunda rodada do draft, para poder direcionar melhor nossas escolhas. Se possível, vamos tentar imaginar o que nossos adversários pegaram nesta rodada, porque a ordem inverte na segunda rodada. Ou seja, o jogador para o qual você passou seus cards na primeira rodada vai passar para você agora nesta segunda rodada. O que eu sei sobre as escolhas dele? Será que ele pegou uma afiliação específica? Essas questões são importantes porque elas ajudam a definir como estão os demais jogadores no draft e evita a competição por recursos. Afinal de contas, não seria muito bom pra você na competição se o deck de seu oponente for muito mais consistente que o seu certo?
Na verdade, depende.
Se você tiver uma boa noção do que os jogadores em seus lados estão fazendo, você pode direcionar o seu pick. Pegamos novamente o caso da dúvida entre o Corvus Glaive e a Cristalys. Se você não estiver comprometido ainda com Inumanos ou com Ordem Negra, essa decisão pode ser bem dividida. Agora, sabendo que o jogador para o qual você está passando cards está construído uma estratégia com Inumanos, não seria melhor você ficar com a Cristalys para não passar para ele? Claro que sim. É nesse sentido que as decisões sobre “furar” o pick do oponente nem sempre são uma boa ideia: você só deve fazer se não comprometer sua estratégia para prejudicar a do seu oponente.
Antes de passarmos para a próxima rodada do draft, só mais uma coisa: como diabos eu descubro o que meus oponentes estão pegando de cards? Assim: você observa bem os cards que você tem em mão, e verifica se há alguma coisa que salta aos olhos depois de sua escolha: algum cenário, habilidade ou quantidade de cards que favorecem uma estratégia particular. Quando aquele pool de cards voltar para você, verifique o que mudou. Num draft com outros quatro adversários, por exemplo, imagine que num pool veio seis bons cards de uma afiliação e, após passar pelos outros jogadores, voltaram quatro. Isso significa que dois adversários estão trabalhando em uma estratégia parecida. Logo, dois jogadores estão aparentemente lutando pelas mesmas opções. Tenha isso em mente para evitar competir com eles e, num momento em que você tenha dúvidas entre dois ou mais cards para escolher, em que nenhum deles esteja ligado à sua estratégia, considere furar o pick deles. Obviamente, quanto mais jogadores no círculo de draft, mais difícil se torna memorizar esses cards e descobrir o que está acontecendo. Tudo bem: tome suas decisões no melhor de suas capacidades e siga em frente.
Segunda Rodada: reforçando sua estratégia
Na segunda rodada, você continua com o foco nos personagens, mas dessa vez você mudará um pouco suas prioridades. Aqui deve ser priorizado o fortalecimento de sua estratégia, ou possíveis estratégias caso sua reserva de cards não esteja muito sólida. Busque reforços nos personagens, mas também em suportes, cenários e habilidades.
Perceba que é nessa etapa que você deverá se comprometer com algo. Na primeira rodada você estava pegando personagens por serem bons, sem pensar na sinergia de afiliações e poderes necessariamente. Na segunda rodada, você deverá focar suas atenções para estas sinergias enquanto para fortalecer uma estratégia acima das demais.
No entanto, ainda aparecerão bombas, e você vai continua pegando-as. Também haverá outras coisas, como cenários e suportes específicos para a afiliação que você está focando, e talvez você tenha que deixar passar uma escolha de personagem medíocre por um card de não personagem que ajudará mais. É o caso com Depósito de Terrígeno para os Inumanos e do cenário Heróis de Aluguel para... Ok, deixa pra lá.
A vantagem de se comprometer com uma estratégia é que as escolhas vão ficando mais fáceis com o tempo.
A primeira vez que surge um conflito entre escolhas difíceis, como o exemplo lá da primeira rodada, você tem que apostar em algo e torcer para dar certo. Depois, quando aquele conflito ou outros similares forem surgindo, não será tão difícil de resolver.
É importante também lembrar que certas sinergias vão sendo criadas mesmo sem se notar. Por exemplo, vimos que as afiliações nessa coleção são bem interessantes. Você terminou a primeira rodada e conseguiu juntar os seguintes cards:
2 Ninja do Tentáculo V2
1 Justiceiro V2
1 Shang Chi
1 Cavaleiro Negro
1 Karnak
1 Coleções de Explosivos
1 Fauce de Ébano
1 Batedor da Ordem Negra
2 Fandral – O Galante
1 Hogun – O Severo
1 Reunião de Guerreiros
1 Volstagg – O Volumoso
O que você pode fazer com esse pool de cards? O que você deverá priorizar? Existe alguma estratégia para ser trabalhada em cima?
Olhando esses cards, vemos que Lâminas é a habilidade que mais aparece: Ninja do Tentáculo V2, Justiceiro V2, Shang Chi, Cavaleiro Negro, Batedor da Ordem Negra, Fandral, Hogun e Volstagg. Além disso, temos três personagens Asgardianos /Três Guerreiros (Fandral, Hogun e Volstagg) e três Heróis de Aluguel (Justiceiro V2, Shang Chi e Cavaleiro Negro). Por ora, temos pouca coesão entre as possibilidades de estratégias, e a segunda rodada do draft vai começar. O que fazer?
Bem, quando não temos algo certo, nós continuamos tentando achar algo. Pode ser que na segunda rodada, você consiga mais Asgardianos, ou mais Heróis de Aluguel, ou até mesmo mais membros da Ordem Negra (já temos Fauce de Ébano e um Batedor, seria bem conveniente). Ou ainda pode ser que nenhum dos anteriores: você consegue nove personagens muito bons... Só que eles são Inumanos. Tudo parece ter falhado.
No entanto, mesmo com essa reserva aleatória demais, é possível fazer um deck bom. Não existe uma regra de que você deve jogar com uma afiliação apenas. Muitas vezes isso nem é vantajoso. Continuando com o exemplo acima, você talvez fique com um deck misto entre Inumanos, Asgardianos e Heróis de Aluguel. No entanto, se você tiver personagens com muitas habilidades em comum, você contorna esse aparente problema com habilidades boas. Nesse exemplo, é fácil ver algo com Lâminas, Super Força e talvez Agilidade.
Talvez esse tipo de sinergia – entre habilidades – seja o que você precisa para vencer.
Apenas para finalizar: a segunda rodada do draft deve ser – na medida do possível – a rodada em que você vai tentar solidificar os seus planos com os cards obtidos na primeira rodada. Você deve terminar a segunda rodada com uma ideia bem definida do tipo de deck que você deseja ter.
Conclusão?
Vamos ficar por aqui hoje para evitar textões. Em breve darei andamento com essa série, explicando quais os planos para a terceira e quarta rodada, além de como montar o deck final e exemplos de arquétipos de decks em draft. Ficou curioso? Então nos vemos na segunda parte do guia de draft BSAQ – Até lá!